EDUARDO VALENTE SIMÕES
( Brasil – São Paulo )
Eduardo Valente Simões (São Paulo, 3 de junho de 1906 – 17 de fevereiro de 1998) foi um farmacêutico brasileiro.
Graduado em farmácia pela Escola de Farmácia e Odontologia de São Paulo em 1925.
Foi eleito membro da Academia Nacional de Medicina em 1969, sucedendo Renato Kehl na Cadeira 93, que tem Belisário Penna como patrono.
CADERNO DE POESIA - II. Santo André, SP: Clube de Poesia de S. André, 1954. 90 p. 15,5 X 22,5 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Espiritismo
Eu tive uma namorada
e morreu. Pobre! Morreu.
Linda, se chamava Iná.
Se eu fosse espírita, havia
de chorar tristonho a morte
dela. Havia de chorar
só por causa de pensar
que, morrendo, não morreu;
não morreu, pois vive ainda
a vida instável do espaço.
Ai que tristeza, meu Deus!
Quantos tropeços na vida,
na vida instável no espaço!#
Quem morre, morre. Mas não
é mais que nem de primeiro,
do primeiro que, morrendo,
se morria de verdade.
Ai que tristeza, meu Deus!
Tristeza principalmente
para quem fica. Quem morre,
morre: não sofre nem sente.
Se nunca veio protesto
deve ser bom, deve ser...
Ai que tristeza, meu Deus!
Tristeza principalmente
que vem da gente pensar
que não carece chorar
pois ninguém morre na morte...
Mário de Andrade me ajeita
um jeito bom de fazer
versos. Por que não me ajeita
um jeito bom de fazer.
É difícil eu sei, ´´e
difícil. Principalmente
quando quem morre não é
a gente: é o amor da gente...
Minha namorada linda
se chamava Iná. Morreu.
Pobre namora linda!
Morreu... Tristeza, meu Deus!
Rondó
Rei da Calábria resfolegou,
bufou,
xingou,
sapateou,
suicidou-se.
Princesa da Sibéria sorriu,
se riu,
cantou,
dançou,
faceirou,
regelou-se.
Marquês de Mandchúvia jurou,
rezou,
chorou,
aprumou,
degolou-se.
Tragédia. Tragédia. Tragédia.
E três entidades que não é bem certo que existiram,
mas três entidades
tragicamente cabíveis
no limite do provável.
Era uma vez o Rei da Calábria,
mais a Princesa da Sibéria,
mais o Marquês de Mandchúria...
Confidência
Quero esquecer, bem vês, quero esquecer
a sua imagem linda e resplendente,
mas é tão grande a luz do meu querer
que nem a morte em dissipar consente.
Sorvo em seus gestos a ilusão do amor,
sinto em seus olhos a atração do mar:
sou como a abelha que, de flor em flor,
à sedução do mel vai se entregar...
Amo, e no meu silêncio apaixonado
Ah! que da vida fez amor sem fim,
amor que a gente sente e nunca diz,
deve ser mesmo incoerente assim...
Amo, e no meu silêncio apaixonado
sinto que faço mal e faço bem,
porque se é triste amar sem ser amado,
mais triste ainda é não amar ninguém.
*
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Página publicada em novembro de 2022
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